Tratando cidadão como adulto, por Guilherme da Cunha

June 24, 2019

A forma como um político legisla diz muito sobre o que ele pensa de você, cidadão. E também sobre o que ele pensa de si mesmo.

O político deve atuar quando um problema afeta a coletividade ou quando as escolhas pessoais de um cidadão podem gerar danos para os outros. Decisões que só dizem respeito ao indivíduo devem ser deixadas para serem tomadas livremente pelos indivíduos, e não pelos políticos.

Quando um político ignora isso e tenta impor uma escolha privada ao cidadão em assuntos que não geram riscos para terceiros, está mostrando, ainda que sem querer, que, na cabeça dele, você, cidadão, é incapaz de fazer as próprias escolhas.

Em geral, o político que age assim se justifica dizendo que está preocupado com sua segurança ou bem-estar, ou que a questão é complexa e você não é inteligente o suficiente para decidir o que é o melhor para você. A mim, isso soa prepotente. Isso é o político tratando o cidadão como criança. Será que ele acha que você não está preocupado com sua própria segurança ou bem-estar? Ou que diante de problemas complexos não é você quem mais dispõe de informações sobre sua vida e seus interesses para fazer as melhores escolhas?

É isso, ou a justificativa é mera desculpa para esconder interesses corporativos ou ideias autoritárias de querer impor a própria visão de mundo sobre os outros e não respeitar as escolhas dos cidadãos quando são diferentes das dele, político.

BH está às voltas com situação desse tipo. O Projeto de Lei 490/2018, que regula a atividade dos aplicativos de transporte na cidade, é cheio de interferências nas escolhas pessoais dos indivíduos que nada têm a ver com problemas coletivos ou segurança de terceiros. No PL há regra que estabelece potência e idade máxima dos carros. Se for questão de segurança, não seria o caso de proibir que veículos inseguros rodem em BH, em vez de só proibir que sejam usados em atividades remuneradas? Ou aceitaremos veículos perigosos rodando, desde que ninguém ganhe dinheiro com eles? Se a desculpa for conforto, a referência está sendo o próprio vereador, que compara o Uber com veículos oficiais, ou o cidadão, cuja opção é viajar espremido em um ônibus?

As regras do PL 490/2018 retirarão a possibilidade de sustento de mais de 20 mil famílias e retirarão escolhas suas, cidadão, sobre que nível de conforto você poderá pagar para ter.

Sou liberal e rejeito esse tipo de política. Rejeito a ideia de que o cidadão não é capaz de fazer as próprias escolhas. Em vez de usar o poder que a política me dá para criar uma cidade na qual cada um faz tudo do jeitinho que eu acho que tem que ser, quero usar esse poder para dar mais liberdade para as pessoas serem do jeito que acham que serão mais felizes. Como político liberal, trato o cidadão como adulto e respeito quando ele toma decisões diferentes das minhas. Como cidadão, quero mais liberais na política. E você, o que quer?

Texto originalmente publicado na coluna do Guilherme da Cunha no jornal Hoje em Dia. Acesse AQUI.