Rosa Parks, a mulher que se recusou a levantar

October 24, 2018

Há 13 anos, num 24 de outubro como hoje, falecia em Detroit uma das ativistas mais importantes da luta por direitos humanos da história recente, Rosa Parks. Talvez esse nome não seja tão familiar quanto Martin Luther King Jr., mas sem o ativismo de Rosa, sem a repercussão do seu movimento de boicote aos ônibus na cidade americana de Montgomery, nada do que viria depois na forma do movimento pelos direitos civis dos negros nos EUA seria possível.

Secretária da Associação Nacional Para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP), a jornada de Rosa sempre foi de muita luta, mas o dia 1º de dezembro de 1955 foi um divisor de águas em sua história. Para entender o episódio, precisamos lembrar que meio século antes, em 1900, foi sancionada no estado do Alabama a Lei de Segregação Racial em ônibus, que estabelecia que os dez assentos da frente dos ônibus eram exclusivos para brancos e os dez assentos do fundo eram exclusivos para “pessoas de cor” (“colored”). Os assentos do meio podiam ser utilizados por ambos, mas caso o ônibus estivesse cheio e um branco embarcasse, uma “pessoa de cor” que estivesse nos assentos do meio deveria ceder a vaga a ele.

Durante toda sua vida, Rosa obedeceu à lei, até o fatídico 1º de dezembro de 1955. Neste dia, Parks tomou seu ônibus por volta das 18 horas, próximo ao seu trabalho na Avenida Cleveland, para voltar para casa e sentou-se em um dos assentos do meio. Durante o percurso, o ônibus ficou cheio e o motorista James F. Blake ordenou que as “pessoas de cor” que estivessem nos assentos do meio fossem para os assentos dos fundos.

Muito se levantaram, mas Rosa se negou. “As pessoas dizem que eu não abdiquei do meu lugar porque eu estava cansada, mas isso não é verdade. Eu não estava cansada fisicamente, eu estava cansada de ceder”, revelou Rosa anos depois em sua autobiografia Rosa Parks: Minha História.

Perplexo com a negação de Rosa Parks, o motorista a pressionou e ligou para a polícia de Montgomery, que a deu voz de prisão. Na mesma noite, Edgar Nixon, presidente da seccional da NAACP em Montgomery pagou a fiança e libertou Parks. No dia 4 de dezembro, um boicote aos ônibus da cidade começou a tomar corpo nas igrejas de negros da cidade ganhando a primeira página do jornal local Montgomery Advertiser. No dia 5, o boicote começou e, mesmo com uma chuva intensa durante todo o dia, a população resistiu e foi ao trabalho a pé.

Na noite seguinte, para dar continuidade ao boicote, foi fundada a Montgomery Improvement Association (MIA), que teve como primeiro presidente eleito Martin Luther King Jr., um jovem recém chegado à cidade que era ministro na Igreja Batista da Avenida Dexter. O boicote e seus desdobramentos ganharam tanta força a nível nacional que a Suprema Corte Americana ordenou, já no ano seguinte, que a segregação não fosse mais permitida nos ônibus.

A história de luta e resistência de Rosa Parks serviu de exemplo para os ativistas dos direitos humanos naquela época e fez eclodir uma voz que jamais será calada. Que sirva de exemplo pela defesa da liberdade nos dias atuais.

Texto de Gustavo Gobbi, membro do Livres-AL e colaborador do Comitê de Comunicação do Livres.