Meu avô policial foi perseguido pela ditadura militar

March 31, 2019

Meu avô foi perseguido pela ditadura militar.

Policial federal e udenista convicto, ele se recusou a torturar pessoas. A arrancar mamilos de mulheres. A jogar seres humanos em celas cheias de insetos até que falassem o que o general queria ouvir. Um verdadeiro subversivo.

A repressão foi tamanha que ele teve de sumir do mapa. Para não ser preso ou morto pelo regime, foi forjado um atestado de óbito. Toda hora a família tinha que se mudar, antes que alguém suspeitasse de algo.

Foram anos difíceis. As coisas só voltaram ao normal com a Lei da Anistia.

Eu não vejo nada a comemorar nessa história. Só vejo como um estado totalitário e opressor desestruturou uma família.

Em Santiago, existe um enorme museu – que já tive o privilégio de visitar – em homenagem às mais de duas mil vítimas do general Augusto Pinochet. No Chile, o presidente Piñera, de centro-direita, reconhece a crueldade do regime e abraça a democracia; as forças armadas fizeram uma promessa frente à sociedade de que nunca mais tomariam o poder ou violariam os Direitos Humanos.

Por aqui, não raro as vítimas da nossa ditadura são ridicularizadas e sua versão dos fatos descreditada. Há quem adore a figura de um coronel sádico que mandava torturar gestantes e crianças. Entre os adoradores, está o Presidente da República.

Tanto a ditadura varguista quanto a militar foram períodos obscuros da história brasileira. Foram anos em que pensar por si mesmo e cometer a audácia de criticar o governo poderiam render prisão e até morte. Foram tempos de culto ao estado e supressão do Indivíduo.

Se você concorda com a ideia de Jair Bolsonaro de comemorar o início desse regime grotesco, você não tem noção do valor da vida humana – e também não tem moral para criticar as práticas extremamente semelhantes que estão em curso na Venezuela.

Governo nenhum tem o direito de encarcerar inocentes, punir suspeitos sem devido julgamento, torturar e matar quem quer que seja ou impedir a livre manifestação. Ameaça comunista alguma justifica isso; não se combate a barbárie sendo igualmente bárbaro.

Que um dia o brasileiro tenha noção da própria história.