Exposição de arte sofre censura em Balneário Camboriú por conter imagem que promove polêmica

March 10, 2020

Não há pior palavra no dicionário para um liberal do que a palavra “censura”, pois ela é a ação direta do autoritarismo estatal incidindo diretamente sobre a liberdade de expressão de um indivíduo. Da mesma forma, não há pior palavra no dicionário para quem é artista.

A liberdade de expressão, de acordo com a autora Ayn Rand em sua obra “A virtude do Egoísmo”, “significa que um homem tem o direito de expor as suas idéias sem o perigo de supressão, interferência ou ação punitiva do governo. […]”.

Ocorre que aqui em Balneário Camboriú, SC; cidade onde vivo, o projeto “Experiência Lote 84” que foi aprovado pela LIC (Lei de Incentivo à Cultura) no ano passado e promoveu além de oficinas, a exposição “Ruína” que inaugurou na Galeria Municipal no dia 5 de Fevereiro e foi fechada logo no dia 6 de Fevereiro por causa da obra “Buraco” da artista Luluca L. que usou a foto de um ânus para, de maneira subversiva e metafórica, representar o buraco no teto dessa mesma Galeria Municipal de Artes que veio abaixo no ano passado, e que foi alvo de protestos dos artistas da cidade, onde me incluo, pela má gestão e má conservação desse prédio público.

George Orwell dizia que: “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas, o que elas não querem ouvir.” Adaptando essa idéia de Orwell para o universo das artes visuais, podemos complementá-la utilizando o sentido da visão. Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer e mostrar às outras pessoas, o que elas não querem ouvir e não querem ver.

O fechamento da exposição foi determinado pela Fundação Cultural de Balneário Camboriú na pessoa de sua presidente, Bia Mattar, e autorizado pelo prefeito Fabrício de Oliveira, que já se declarou inúmeras vezes alinhado ao bolsonarismo. A Fundação Cultural justificou o ato de censura por considerarem o conteúdo da exposição gerador de polêmicas, mas quem defende a liberdade por inteiro sabe que todo e qualquer ato de censura deseja, travestida de “garantia da lei e da ordem pública”, impor a ditadura do discurso politicamente correto, seja ele de direita ou de esquerda. Nesse caso, a censura fica ainda mais explícita quando é sabido que a classificação etária para visitar a exposição era de 18 anos.

Munidos de um argumento vitimista, de que uma obra de arte com a imagem de um ânus dentro da Galeria Municipal de Artes possa destruir as bases da família tradicional e da sociedade ocidental, os advogados do politicamente correto de direita nesse caso específico, não querem outra coisa senão calar seus divergentes, sempre dizendo que os que pensam e agem diferente de sua cartilha, representa uma ofensa, e que não devem, jamais, serem tolerados.

Faz todo sentido que nós do LIVRES, e todos os verdadeiros liberais, para quem a liberdade de expressão é algo tão sagrado e caro, se opunham com veemência à faceta autoritária do politicamente correto. Não é preciso concordar e aplaudir a obra “Buraco” e nem visitar a exposição “Ruína”, onde a obra se encontra atualmente velada por um tecido preto, para que nós enquanto instituição e enquanto indivíduos possamos defender o direito da artista Luluca L. expressar sua arte e sua visão estética, por mais que a obra possa não nos agradar.

Para a artista Luluca L., nunca foi fácil para propostas dissidentes e decoloniais encontrarem lugar de fala no sistema de arte. A obra “Buraco” é conceitual e serve de metáfora para muitas coisas: para um buraco no teto da Galeria Municipal de Artes, que desabou no mesmo dia em que artistas desmontavam uma mostra, para o momento político que passamos com o presidente e o seu guru constantemente falando com o cu na boca. Eu vejo muito sendo dito sobre a obra por gente que nunca vai a uma exposição de arte e sequer a viu instalada. Isso descontextualiza o discurso e a função dela.

Ainda de acordo com Luluca L., o posicionamento da Fundação Cultural é falacioso. Todas as ações foram feitas perante diálogo direto com a Comissão de Organização e Acompanhamento. Como que a exposição abriu se estava completamente fora dos procedimentos segundo eles? Houveram no mínimo dois responsáveis pela fiscalização, montagem e liberação da exposição. A equipe técnica da Galeria Municipal auxiliou. Uma dessas pessoas foi a própria presidente da Fundação Cultural, que acompanhou todo o processo, deu idéias, autorizou a abertura, esteve presente e até discursou protocolarmente.

São atos como esse da presidente da Fundação Cultural, Bia Mattar, do prefeito de Balneário Camboriú, Fabrício de Oliveira e de todo tipo de militância politicamente correta que me impulsionam a lutar cada vez mais por liberdade em minha cidade, porque o que distingue um verdadeiro liberal dos demais não é apenas a defesa da liberdade por ela mesma. Isso todos dizem defender. Mas a grande distinção do verdadeiro liberal é o amor à liberdade alheia.