A ilusão do poder

June 24, 2020

A atual crise nos mostrou o quão humano é o leviatã socioeconômico e, portanto, é extremamente falho e está sujeito às fragilidades do indivíduo.

As pressões externas afetaram o atual governo de tal forma que o quebrou. A ignorância e falta de experiência num lugar em que se conversa com o epicentro do leviatã é fatal. O ideal existe para negar o real e o idealismo e raiva vão na contramão da realpolitik e suas diversas faces.

Quando se constrói um legado baseado em raiva e idealização, ao longo do tempo, percebe-se que as bases pareciam solidas mas, na verdade, são extremamente vulneráveis à realidade. A pressão do cenário atual é atípica, mas serviu para provar que não se controla o poder; o poder nos controla.

E a mera ideia de pensar que temos o controle total é destrutiva, já que o poder nem sempre é explícito. Se um rei ignora o poder dos seus lordes e até serviçais, corre, sem dúvida alguma, grande perigo pois o poder pode até ser idealizado e canalizado em um indivíduo, mas a verdade é que sempre foi e será um fenômeno coletivo.

É preciso saber partilhar o pão e ouvir até quem discorda de nós, principalmente no poder. Aqueles que consideramos inimigos estão melhor atuando perto. Os amigos precisam ser vigiados e atendidos com ainda mais cuidado, pois eles se dizem sinceros, mas os inimigos o são, como já diria Schopenhauer.

A ilusão de achar que se tem o pleno controle acabou com o atual governo. Por isso conhecimento é poder. Pois poder sem conhecimento é oco, vazio, fútil; e se desmorona com facilidade.