Por que a indicação do presidente do IBGE importa?

July 31, 2023

Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo. Confira na íntegra aqui.

nomeação do economista Marcio Pochmann para a presidência do IBGE causou controvérsias entre especialistas e comentaristas de diversas orientações políticas. Alguns críticos expressam preocupação de que a trajetória profissional e acadêmica indica que Pochmann possa interferir no trabalho técnico do órgão, reconhecido por sua qualidade e independência.

Neste contexto, é relevante explicitar a importância do IBGE ao fornecer dados sobre as características e comportamentos dos brasileiros, uma janela que permite olhar para o Brasil.

O instituto é responsável pela produção, análise e coordenação de informações estatísticas e geográficas, incluindo a documentação e disseminação desses dados. Assim, é natural que se deseje que o seu presidente transmita credibilidade, refletindo a importância da instituição. Mas, afinal, o que faz o IBGE?

A tarefa mais famosa da organização é a realização do Censo Demográfico a cada dez anos. Ao fornecer informações detalhadas sobre características de sexo, idade, cor ou raça, religião, escolaridade, renda e ocupação, o censo facilita a compreensão da realidade brasileira. Assim, é possível adequar políticas de saúde, educação, habitação e assistência social para as diversas regiões do país.

A consolidação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é um dos levantamentos importantes do trabalho do IBGE. Como indicador oficial da inflação no Brasil, o IPCA mede a variação dos preços de produtos e serviços consumidos pelas famílias de diferentes faixas de renda.

Esse índice, junto com outros indicadores de preços, é utilizado diretamente para a formulação da política monetária do Banco Central, impactando a taxa básica de juros (Selic). Além disso, o IPCA também serve como referência para correção de valores em contratos e benefícios sociais, tornando-o um elemento relevante na tomada de decisões econômicas.

A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) é uma pesquisa mensal que coleta dados socioeconômicos da população brasileira por meio de uma amostra de domicílios. Enquanto o Censo é realizado a cada dez anos, a Pnad Contínua complementa seus dados, oferecendo atualizações constantes e sistemáticas sobre a realidade brasileira em um prazo mais curto.

Essa pesquisa utiliza um painel de domicílios acompanhados ao longo do tempo, possibilitando análises das mudanças e tendências dos fenômenos estudados. A pesquisa aborda uma ampla gama de temas, incluindo trabalho, rendimento, educação, saúde, segurança alimentar e acesso à internet. Essa abrangência a torna uma fonte essencial para monitorar importantes indicadores socioeconômicos, como a taxa de desemprego, distribuição de renda e nível de escolaridade.

De modo concreto, os dados do Censo podem ser usados para definir o número de vagas e a distribuição de recursos para a educação básica, bem como para identificar as demandas por creches, escolas e universidades. Os dados da Pnad Contínua, por exemplo, podem ser usados para elaborar e acompanhar as políticas de geração de emprego e renda ou ainda para calcular os benefícios sociais.

Esses são apenas alguns exemplos dos tipos de dados que são coletados e disponibilizados pelo IBGE e seus usos. Assim, a polêmica em torno da nomeação do Marcio Pochmann para a presidência do Instituto reflete a importância de que o seu comando tenha demonstrado conhecimento técnico ligado a área da estatística e consequentemente credibilidade.

Além de ter a confiança do presidente da República, o presidente do IBGE deve ser capaz de liderar e apoiar a equipe técnica, garantir a autonomia e a transparência das informações produzidas e defender o fortalecimento institucional do órgão. Sem a confiança de pesquisadores proeminentes e formuladores de políticas que trabalham usando os dados do Instituto, é difícil acreditar que a indicação tenha sido uma boa ideia.