Pela defesa do Liberalismo Popular

June 16, 2023

Liberalismo

O Liberalismo vive uma crise de identidade. Embora seja natural uma corrente de pensamento desenvolvida há 300 anos, com uma diversidade enorme de teóricos, sofrer atualizações e algumas reformas, os desafios que se apresentam no contexto político do Brasil são maiores. 

O estigma de defensor dos interesses econômicos da “classe dominante” e indiferente às mazelas sociais das minorias é uma tese que não se sustenta perante a uma análise profunda da história do pensamento, tampouco em sua literatura mais atual. O Liberalismo de Adam Smith, no século XVII, já defendia a liberdade das pessoas viverem suas vidas da maneira que quiserem, sendo suas escolhas, vícios e virtudes, uma questão da ordem individual e privada. O de Voltaire e John Locke já defendia a tolerância religiosa, a liberdade de expressão e de pensamento, mas também a separação entre religião e política. O de Mary Wollstonecraft, no século XVIII, e do Stuart Mill, no século XIX, já defendia os direitos das mulheres e se monstrava contrário a qualquer forma de opressão sofrida por elas. O de Luís Gama e José do Patrocínio já lutava pelos direitos dos negros e contra o racismo. O de William Beveridge já enxergava o “Estado Mínimo” como inviável para nossa realidade histórica frente às novas demandas sociais, sendo favorável à um Estado Social que oferecesse assistência aos vulneráveis e igualdade de oportunidades a todos. No século XX, o Liberalismo da Deirdre McCloskey já lutava pela aceitação e pela visibilidade LGBTQIA+, sobretudo transsexual. O de Hayek e Milton Friedman já se preocupava com a parcela pobre da população, desenvolvendo em seus estudos a proposta da renda básica universal, que hoje fundamenta a maior parte dos programas sociais brasileiros. O de John Rawls já acreditava que a liberdade plena só seria atingida através da justiça social. 

Apesar da história nos munir de pensadores, teses e estudos que justifiquem um forte apelo popular, vivenciamos um período marcado pela negação dessas causas, reforçando todos os estigmas elitistas criados pelos Marxistas. A relação velada com o Bolsonarismo não é, infelizmente, a única contradição ética. O entusiasmo do Vilfredo Pareto pelo Fascismo Italiano e a atuação direta dos Chicago-Boys na Ditadura Militar Chilena também podem ser classificadas como um desvio. Contudo, no país onde há uma rica tradição construída pelos Luzias, o desvio tem se tornado o padrão e os elementos incorporados à prática política são aqueles responsáveis por manchar nossa história recente.