Mais Uruguai, menos Argentina: Brasil deveria buscar a integração global

July 10, 2023

Economia

Artigo originalmente publicado na Folha de S. Paulo. Leia na íntegra aqui.

divergência entre os presidentes do Brasil e da Argentina com o presidente do Uruguai durante a 62ª Cúpula do Mercosul destaca um debate crucial: o isolacionismo versus a integração. As discordâncias sobre pontos específicos do acordo do Mercosul e a União Europeia são apenas consequência de visões de mundo distintas.

O acordo entre Mercosul e União Europeia, anunciado em 2019, é um dos maiores do mundo em relação ao PIB somado de seus participantes, e prevê a eliminação de tarifas para diversos produtos e serviços, além de facilitar o acesso a mercados públicos, a cooperação regulatória e a proteção ambiental. Contudo, o acordo ainda não entrou em vigor, pois depende da ratificação dos parlamentos dos países envolvidos, o que tem envolvido intensa negociação.

Lacalle Pou defende uma maior abertura comercial e uma flexibilização das regras do bloco para permitir acordos bilaterais com outros países. Já Lula e Fernández adotam uma postura protecionista, defendendo, por exemplo, que compras governamentais privilegiem fornecedores locais e tarifas que protejam a indústria na região.

Considerando o longo histórico do protecionismo brasileiro, se essa última tese fosse correta, deveríamos ter não só uma indústria extremamente pujante e competitiva, mas também uma grande quantidade de empresas exportadoras. A realidade é o oposto: setores da indústria estão em busca de subsídios para sobreviver (exemplo das montadoras de veículos) e menos de 1% das empresas brasileiras são exportadoras. Esse número é baixo mesmo mesmo quando se controla pelo PIB per capita, conforme o levantamento de Otaviano Canuto e outros autores.

Conforme tratei em outra coluna, a literatura acadêmica sobre os benefícios da abertura comercial é farta e abrangente. Ainda assim, impera em parte dos membros do Mercosul a ideia de que integração deva ser principalmente regional e de que acordos comerciais devem ser pontuais e limitados.

Essa ideia é equivocada e prejudicial para o desenvolvimento sustentável e a integração regional. O acordo entre Mercosul e União Europeia representa uma oportunidade para a inserção da região na economia global. Seria possível aproveitar as vantagens comparativas de seus produtos e serviços, diversificar seus mercados, atrair investimentos, estimular a inovação, reduzir custos e ampliar o bem-estar dos consumidores.

O governo brasileiro muito se beneficiaria não só do acordo, mas também de seguir a postura do Uruguai em relação à abertura comercial e à inclusão global, Com uma maior flexibilização das regras do Mercosul, a fim de permitir acordos bilaterais com outros países, o Brasil poderia buscar seus interesses negociando com cada vez mais parceiros. Contudo, Lula prefere se prender à velha mentalidade protecionista, partilhada por Fernández.

Nesse contexto, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia poderia ser uma oportunidade significativa para o bloco se posicionar de forma mais aberta e globalizada. Além dos benefícios comerciais, o acordo abrange diálogo político e cooperação, proporcionando uma plataforma para a inserção na economia global e aproveitar os ganhos do comércio. É fundamental olhar para o futuro e abrir-se para o mundo, aproveitando as oportunidades. A integração regional a partir do Mercosul não pode ser empecilho para a integração de seus membros com o resto do mundo.