Liberdade econômica e desenvolvimento

April 12, 2022

Economia

Na edição 2021 do Índice de Liberdade Econômica (ILE) publicado pela Heritage Foundation1, que avaliou 184 países, o Brasil ficou em uma desonrosa 143ª. posição. Isso nos coloca no grupo dos países “majoritariamente não-livres”, penúltimo grupo, só não pior que o grupo dos “reprimidos”. Os cinco países considerados “livres” foram: Singapura, Nova Zelândia, Austrália, Suíça e Irlanda.

Não é coincidência que estes mesmos 5 países apareçam na lista dos 15 com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que avalia fatores como expectativa de vida, anos de escolaridade e renda per capita. Maior liberdade econômica contribui para o crescimento da renda per capita2, redução do desemprego3,4, aumento da expectativa de vida5, aumento da taxa de alfabetização de adultos6, percepção subjetiva de bem-estar7 e redução das taxas de mortalidade infantil e materna8. O Brasil figura na 84º. posição nesse indicador, com um valor igual a 0,765, o que pode até ser considerado alto, se considerarmos que a líder no ranking é a Noruega, com 0,957.

Entretanto, o desenvolvimento humano no Brasil não é o mesmo para todos. Na avaliação da desigualdade de distribuição de renda, medida pelo índice Gini, o Brasil é o oitavo mais desigual no mundo. Aqui novamente, os países com maior liberdade econômica não figuram nas piores posições. Em países com maior desigualdade, como o Brasil, a elite econômica tende a proteger seus interesses econômicos de potenciais concorrentes, reduzindo a liberdade econômica.9

O que se observa é que a liberdade econômica está associada não só ao crescimento econômico e da renda, mas também à menor pobreza e maior bem-estar geral. Isso ocorre porque os países mais livres sabem aproveitar a capacidade do livre mercado em gerar crescimento econômico através de uma alocação eficiente de recursos, criação de valor e inovação.

No quadro abaixo é possível entender melhor o que está por trás dessa métrica, como estamos distantes dos demais países e que características influenciam negativamente nossa avaliação, quando o assunto é liberdade:

Dimensão Critério Brasil Américas Mundo Características Influentes
Estado de Direito Direitos de Propriedade 55,0 48,5 54,3 –    Acesso a financiamento desigual

–    Judiciário sobrecarregado, ineficiente e sujeito a influências externas

–    Corrupção e propinas frequentes

Efetividade Judicial 45,5 40,9 46,6
Integridade do Governo 47,5 44,2 46,1
Tamanho do Governo Carga Tributária 70,1 77,2 77,7 –    Alta carga tributária (33% da renda interna)

–    Gastos do governo em 38% do PIB nos últimos 3 anos

–    Déficits elevados (7% PIB) e dívida pública elevada (89,5% PIB)

Gastos do Governo 56,5 72,1 67,4
Saúde Fiscal 5,3 64,8 72,4
Eficiência Regulatória Liberdade de Negócios 58,0 61,4 63,7 –    Acesso a energia elétrica ficou mais caro

–    Custos para obter licenças aumentou

–    Leis trabalhistas onerosas

–    Subsídios massivos para determinados setores

Liberdade Trabalhista 50,7 57,6 59,6
Liberdade Monetária 77,8 76,1 75,0
Mercados Abertos Liberdade de Comércio 64,6 68,3 70,9 –    Burocracias limitam o investimento estrangeiro

–    Considerável intervenção do governo no setor financeiro através de bancos públicos, que respondem por mais de 50% dos empréstimos ao setor privado

Liberdade de Investimento 60,0 62,6 56,9
Liberdade Financeira 50,0 49,4 48,4

Obs.: Dados do índice em 2021. As notas variam de 0-100 sendo 100 a total liberdade econômica.

Para nos tornarmos um país de oportunidades o caminho passa pela liberdade econômica. Nossa agenda de mudanças precisa endereçar os aspectos negativos do quadro acima. Para isso precisamos caminhar em propostas que:

– organizem as contas públicas reduzindo privilégios e subsídios, garantindo assim mais recursos para investimentos e em políticas essenciais ao cidadão;

– melhorem a segurança e a eficiência do nosso sistema jurídico, com melhor gestão de processos, automatização e transparência;

– retomem os esforços de combate à corrupção, com maior transparência e medidas legais que diminuam a impunidade;

– facilitem a vida de quem quer empreender, com menos burocracia e maior flexibilidade nos contratos de trabalho;

– permitam um maior controle dos gastos públicos e que garantam sustentabilidade fiscal, para então iniciarmos discussões sobre uma possível redução da carga tributária.

Só assim deixaremos de ser o país dos privilégios para sermos o país das oportunidades para todos!

 

Veja também:

https://novo.org.br/explica/o-que-o-brasil-precisa-fazer-para-subir-no-ranking-de-liberdade-economica/

https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/12/15/brasil-tem-a-8-pior-desigualdade-de-renda-e-supera-so-paises-africanos.htm

https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2019/12/09/brasil-e-o-7-mais-desigual-do-mundo-melhor-apenas-do-que-africanos.htm

 

Referências:

  1. Heritage Foundation (2021). Index of Economics Freedom, Disponível em: <https://www.heritage.org/index/>. Acesso em: 14/12/2021.
  2. Islam, S. (1996). Economic freedom, per capita income and economic growth. Applied Economics Letters, 3(9), 595–597. https://doi.org/10.1080/135048596356032
  3. Feldmann, H. (2007). Economic Freedom and Unemployment around the World. Southern Economic Journal, 74(1), 158–176. https://doi.org/10.2307/20111958
  4. Heller, L. R., & Stephenson, E. F. (2014). Economic Freedom and Labor Market Conditions: Evidence from the States. Contemporary Economic Policy, 32(1), 56–66. https://doi.org/10.1111/coep.12031
  5. Esposto, A. G., & Zaleski, P. A. (1999). Economic Freedom and the Quality of Life: An Empirical Analysis. Constitutional Political Economy, 10(2), 185–197. https://doi.org/10.1023/A:1009068829135
  6. Gehring, K. (2013). Who Benefits from Economic Freedom? Unraveling the Effect of Economic Freedom on Subjective Well-Being. World Development, 50, 74–90. https://doi.org/10.1016/j.worlddev.2013.05.003
  7. Naanwaab, C. (2018). Does Economic Freedom Promote Human Development? New Evidence from a Cross-National Study. The Journal of Developing Areas, 52(3), 183–198. https://doi.org/10.1353/jda.2018.0045
  8. Krieger, T., & Meierrieks, D. (2016). Political capitalism: The interaction between income inequality, economic freedom and democracy. European Journal of Political Economy, 45, 115–132. https://doi.org/10.1016/j.ejpoleco.2016.10.005