Crônica de uma vitória anunciada?

May 9, 2022

Eleições

Acompanhar os desdobramentos da eleição de 2022 na Bahia tem sido uma tarefa no mínimo interessante. Pouco menos de seis meses nos separam do dia 02 de outubro, mas se o cenário continuar nos atuais termos será uma data meramente simbólica: teremos de fato um nome capaz de concorrer com ACM Neto ao governo do Estado?

A história que acompanhamos hoje é marcada por um elemento indispensável a qualquer político com projetos de longo prazo: constância e visão de futuro. ACM Neto começou sua vida política como o deputado mais votado do estado pelo antigo PFL, jovem e impulsionado por um dos elementos políticos mais fortes no Brasil: um nome de família conhecido. Não sendo hipócrita, sabemos o quanto nomes de tradição pesam e o quanto um sobrenome Magalhães é relevante na Bahia.

Em que pese seu destaque inegável como deputado, sua primeira eleição para o executivo foi marcada por uma derrota. O ano era 2008 e, apesar de liderar pesquisas durante a campanha, ACM Neto ficou “apenas” em terceiro lugar na eleição. Após essa derrota visivelmente inesperada, Neto seguiu uma via menos usual: mostrou vulnerabilidade e apareceu no dia seguinte em entrevista na Rede Bahia, emissora fundada por seu avô, com olhos vermelhos e declarando esperar o melhor para a cidade. Uma revez no plano original, mas qualquer um que observasse mais de perto perceberia que esse estava longe de ser seu fim.

Já em 2012, o cenário eleitoral era diferente: Salvador estava um caos, com problemas inegáveis até para os maiores defensores do PMDB, partido do então prefeito João Henrique. A campanha foi longe de ser fácil, a maioria das pesquisas de boca de urna colocavam Neto em segundo lugar na disputa, mas após o primeiro turno veio a vitória simbólica: cinco mil votos a mais que Pelegrino, candidato apoiado petista apoiado pelo então governador Jaques Wagner. Apesar de faltar um turno, o clima dentro do DEM e dos apoiadores era de vitória, até hoje lembro da coletiva de impressa transmitida imediatamente após a eleição onde vários apoiadores gritavam ao fundo “o ACM voltou”.

Dez anos depois, nos vemos de frente com o resultado do trabalho de uma década: ACM Neto conseguiu ser eleito, reeleito em primeiro turno e fazer seu vice-prefeito assumir a prefeitura após uma votação esmagadora, 64,20% dos votos já no primeiro turno para um candidato cuja maior bandeira era ser “o candidato de Neto”. Político relevante nacionalmente, Neto começou indiretamente sua campanha para governador desde que saiu da prefeitura, afinal nenhum dos eleitores o via concorrendo a algo além do executivo, nem ter sido citado numa delação da Lava Jato diminuiu sua credibilidade com a população.

Resgatando inclusive o histórico jingle “você se lembra de mim”, símbolo máximo de seu avô Antônio Carlos Magalhães, político controverso mas inegavelmente um dos nomes mais fortes da política baiana, ACM Neto iniciou 2022 com caminhadas para “visitar a Bahia”, mesmo antes de sua pré-candidatura oficial. Seu principal desafio seria encarar um nome forte no PT, partido que assume o Palácio de Ondina há 16 anos. Contra Jaques Wagner sua vitória parecia mais incerta, mas contra o desconhecido Jerônimo Rodrigues, pré-candidato oficializado pelo PT, o cenário muda.

Claro, muita água ainda rolará até a eleição e carregar o nome do falecido ACM será tanto uma benção quanto uma maldição para seu neto, mas o ponto principal não é esse. Cheguei até este ponto do texto e o que falei sobre projeto político? Nada. Sabe-se que ACM Neto é um candidato mais alinhado à direita e o PT à esquerda, mas como isso se reflete em seus projetos de governo? Não é muito claro.

Mais uma vez se instala uma eleição extremamente personalista, não se votam em plataformas políticas, mas em símbolos, em nomes ou partidos. Segurança pública, educação e saúde são jogados como bandeiras abstratas, pautas de toda eleição. São relevantes? Claro, mas como se chegará a elas? As soluções apresentadas (quando apresentadas) mostram-se simplistas para problemas estruturais complexos. É triste perceber como a velha política ainda domina as rodas de discussões, o quanto ideais como os liberais ainda precisam avançar muito para alcançar a grande população.

Faltam menos de seis meses para eleição e a pergunta que me faço é: a terceira via realmente terá a coragem necessária para entrar na briga de peixe grande, em uma campanha com protagonismos definidos? A dúvida é clara, mas sabemos de uma coisa após 2018, sempre haverá espaço para o imprevisto em qualquer eleição brasileira.