Quando a religiosidade vale mais que o direito a vida

September 17, 2020

Nas últimas semanas a deputada federal e pastora Flordelis foi apontada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como mandante do assassinato de seu marido, o também pastor Anderson do Carmo. A alegação do crime, segundo os investigadores, seria pela insatisfação da deputada com a forma como o pastor geria o dinheiro da família.

Uma das coisas que mais chamaram atenção no inquérito foi uma troca de mensagens onde Flordelis insinua que o assassinato do marido seria a melhor decisão a se tomar. De acordo com o promotor Sergio Lopes Pereira a deputada mandou a seguinte mensagem para dos filhos dela que também está denunciado: “Fazer o quê? Separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus”. Na lógica de Flordelis, mãe de 55 filhos, um assassinato escandalizaria menos do que uma possível separação. Para um ser humano em sã consciência isso é um absurdo (e realmente é), mas na mente da deputada e pastora a separação acabaria com a sua imagem dentro da instituição religiosa. Então a lógica que ela usou foi, de mandar assassinar o próprio marido, contar a história que ele foi assassinado numa tentativa de assalto. Ela se veria livre do pastor para sempre e sem precisar se prestar a um processo de divórcio, o que seria um escândalo no meio religioso. Seria o plano “perfeito”, caso não fosse descoberto.

Esse caso serve para mostrar o que uma pessoa é capaz de fazer só para manter o seu status dentro de uma instituição. Pastor Anderson do Carmo era o pastor presidente da igreja Ministério Flordelis (sim, a igreja levava o nome da própria), se eles se separassem o pastor Anderson não poderia continuar na presidência da igreja, mas Flordelis também não poderia assumir como presidente. Sua agenda de compromissos em outras igrejas também ficaria bastante afetada, pois o divórcio não é visto com bons olhos no meio evangélico. Com a morte do pastor, Flordelis assumiria a presidência da igreja, não teria a sua agenda afetada e o mais importante, sua imagem continuaria intacta dentro do sistema religioso.

O problema de tudo isso é que um assassinato é abominável em todos os âmbitos, do religioso ao âmbito social. Cercear o direito de vida de alguém é inaceitável, a própria bíblia abomina essa prática. Em Êxodo capítulo 20 e o versículo 13 está escrito: “Não matarás.” Esse é um dos dez mandamentos. Ou seja, a importância de ter um poder no meio religioso é tão grande que vale até ir contra os mandamentos do próprio Deus. Além de ir contra a palavra de Deus um assassinato é um ato que vai contra as ideias de liberdade. Frédéric Bastiat em seu livro “A Lei” começa falando sobre a importância da vida. No primeiro capítulo de título “A vida é um dom de Deus”, Bastiat diz: “Provém a nós, de Deus, o dom que inclui todos os outros, a vida – física, intelectual e moral. Mas ela não basta a si mesma. Por isso, o Criador confiou a nós a responsabilidade de PRESERVÁ-LA, desenvolvê-la e aperfeiçoá-la.

O ensinamento que Bastiat nos traz é que a vida é um dom que necessita ser preservado. Quando eu tiro a vida do meu próximo estou indo contra o principal princípio de liberdade, o princípio da vida. Todos tem o direito a vida e ninguém tem o direito de tirar isso de alguém, principalmente para manter o seu poder e influência dentro da instituição religiosa.

Vale lembrar que Flordelis ainda não está presa por causa de sua imunidade parlamentar. A Câmara vai decidir se ela terá o mandato cassado ou não.