Pelo direito do Noblat ser babaca, por Gabriel Spalenza

December 19, 2018

Liberdade de expressão: um dos pilares fundamentais de qualquer sociedade livre e decente; e, ao mesmo tempo, um conceito profundo demais para ser limitado. Quando se reduz as opiniões e expressões que podem ser demonstradas sem qualquer sanção contra o dono desta opinião a liberdade de expressão simplesmente deixa de existir.

Não há quem discorde que a liberdade de expressão era inexistente na antiga União Soviética, as únicas opiniões que poderiam ser expressadas sem punições ao indivíduo que a expressou eram as opiniões que não desagradavam a nenhum membro do partido.

Nos dias de hoje, o problema é outro: para todo aquele que se considera um “Justiceiro Social” qualquer opinião que contraria o politicamente correto deve ser considerada discurso de ódio e portanto, expurgada da própria sociedade. Destacando, em especial, na Europa onde grupos tentam criminalizar opiniões, por exemplo, contra as atuais políticas de migração na Europa, sob a égide do argumento “Discurso de ódio não é opinião”.
Opinião, pelo significado da palavra, é quando você expressa determinado pensamento, julgamento ou visão de mundo através de palavras. A outra forma de expressar determinado pensamento é através da ação objetiva, ou seja, alguma forma de coação.

Na realidade que criou essa discussão, temos dois lados de uma mesma postura, a de dois pesos e duas medidas. Quando o alvo de uma opinião polêmica é uma liderança da direita, a direita chama de intolerância e a esquerda chama de liberdade de expressão; quando o alvo da opinião polêmica é uma liderança da esquerda, a direita chama de liberdade de expressão enquanto a esquerda chama de discurso de ódio.

Ao tratarmos do caso do Ricardo Noblat caçoando da declaração da Ministra Damares sobre seu passado traumático, dentre as respostas dadas a montagem é possível ver quem defenda processar o jornalista ou deletar sua conta no Twitter. Observando a situação sem ser enviesado como quem defende a posição político-ideológica do governo da futura ministra ou de quem a ataca, é possível ver que conduta praticada por Noblat deve ser reprovada, porém não proibida.

Sob a ótica da ética lógico argumentativa, uma agressão física da ao agredido o direito a legítima defesa com uma reação na mesma forma de agressão, ou seja, por exemplo, agredir com um soco, reagir com um soco. Nesse caso vemos um princípio implícito de proporcionalidade, o ataque a um direito básico põe em risco os direitos básicos do agressor.

Noblat, em sua publicação, contraria o bom senso e talvez até um senso de moralidade. Debocha não das opiniões da futura Ministra Damares, mas de sua fé e do passado traumático do qual ela superou para ser a mulher e mãe que é hoje. Hoje, não existe mais a possibilidade de amparar a vítima que a futura Ministra fora, mas devemos a ela respeito por ter tido a força de superar o trauma e amadurecer.

A criminalização de opiniões polêmicas anularia qualquer virtude no posicionamento ético pois igualaria o virtuoso que abertamente defende os direitos naturais e a ética da liberdade com o preconceituoso que esconde sua opinião por medo da coação, enquanto dissemina em segredo o posicionamento equivocado. Ou seja, mesmo as sugestões dadas como resposta ao próprio tweet do jornalista são equivocadas, sanção judicial ou exclusão do meio de comunicação (a conta do Twitter do jornalista) contra expressão pacífica (e profundamente babaca) de opinião é desproporcional.

Dito isto: que tipo de ser humano debocha da fé e da resiliência de uma mulher que superou um dos traumas mais pesados que um indivíduo pode sofrer?

Proibir o comunismo no começo do século XX não funcionou em incontáveis países pois o removeu do debate aberto onde do ponto de vista utilitário, ético e mesmo de bom senso, o comunismo é menos lógico do que qualquer outro sistema menos tirânico. Se a declaração feita por ele fosse um crime, nunca saberíamos dos pontos de vista reprováveis do jornalista e portanto, ele nunca chegaria a ser merecidamente boicotado.

A liberdade de expressão é o sangue que nutre toda imprensa e sociedade livre, para que todo jornalista e cidadão possa expressar pacificamente o que pensa. Um jornalista tem como maior símbolo do seu valor a sua própria credibilidade como fonte de informação, mas em uma era onde incontáveis pessoas podem reportar um fato através de uma das várias plataformas que a internet nos permite, qual o valor ou postura que diferenciará os profissionais dos amadores?

Ricardo não é um humorista, seus atos devem ser levados a sério, suas opiniões não são piada. Noblat acaba de demonstrar que, em uma era onde quase qualquer um pode noticiar um fato, os profissionais do jornalismo serão aqueles que mantém a compostura, o respeito ao indivíduo e uma ética jornalística de se separar a discordância de opiniões do deboche e desmerecimento de uma determinada pessoa ou fé.

Para pessoas que agem assim, a resposta mais correta nunca deixará de ser o boicote. Ignorar um jornalista é a pior punição que pode ser dada a este, nesta situação Noblat fez por merecer.