O cristianismo e a política brasileira

August 10, 2021

Em documentos públicos, afirma-se que Jesus de Nazaré foi um profeta, cujo objetivo no planeta foi pregar o Evangelho e que foi violentamente assassinado aos trinta e três anos. Apesar de crenças definirem sua origem, vida e estética em condições muitas vezes diferentes, é um fato que ele existiu e foi um indivíduo singular.

Na antiguidade, o acesso à informação era escasso e a individualidade era submetida ao que o Estado desejava. O Império Romano era uma força poderosa, um grupo tão onipresente e temido quanto qualquer figura mística. Seus desejos eram sentidos de imediato na terra e na população de forma bárbara caso esta fosse a ordem do governante. Assim, o grupo ultrapassou o limite ético e moral que, supostamente, justificaria a existência do Estado, a segurança e a preservação da vida.

O professor Reza Aslan, um teólogo americano dedicado ao estudo do cristianismo, caracteriza Jesus como um revolucionário que desafiou o poder do Estado e a ordem hierárquica da antiguidade. Cristo é apresentado como um líder que estimulava multidões e persuadia através do argumento e não da força, oferecendo aos seus discípulos um caminho divino diferente daquele estabelecido pelos militares, demonstrando que o certo não se veste de autoridade e o bem parte sempre do indivíduo, nunca dos mais poderosos. Dessa forma, sofreu as mais severas punições, assim como tantos outros que tentaram tal feito.

Em muitos episódios da história antiga e moderna, homens febris e descompromissados com qualquer tipo de debate utilizaram do poder de forma violenta para a preservação de seus privilégios e da própria satisfação. Apesar disso, parte da população insiste em acreditar que exista alguém ou algum grupo que seja moralmente bom e intelectualmente eficiente para controlar tudo aquilo que o cidadão deve ou não fazer. Essa tradição é observada no Brasil, na América Latina e no restante do mundo, nenhum lugar está imune aos efeitos do populismo, cujas consequências são terríveis para o indivíduo.

Como resultado disso, a polarização vem crescendo no nosso país e desestabilizando a ordem da nação. Esse termo é utilizado para descrever a divisão da sociedade em polos distintos, os quais se limitam em suas crenças, e cuja indisposição para o diálogo se manifesta através de protestos violentos, insultos em redes sociais ou, até mesmo, em discussões familiares. Entretanto, aqui ela acontece de maneira satirizada, apoiada por falsas promessas de campanha, frases de efeito e políticas econômicas ineficientes.

Em território nacional, ela se intensificou de forma veroz em 2018, na eleição envolvendo Fernando Haddad e Jair Messias Bolsonaro. A disputa ultrapassou os limites políticos e adentrou as relações particulares dos eleitores, afastando pessoas próximas com percepções de mundo diferentes.

Os grupos são extremamente bem definidos, com políticos e organizações próprias, e são detentores de pautas assertivas envolvendo temas relevantes, como combate ao racismo, porte de armas, aborto, casamento homoafetivo, entre outros. Em grande parte dessas questões, eles possuem opiniões diametralmente opostas. Apesar disso, ambos os grupos se aproximam ao exigirem controle e forte presença do Estado, seja no aspecto econômico ou social.

A religião sempre foi mais um dos temas para debates acalorados, tendo em vista sua influência nos mais diferentes aspectos da vida humana. Ela cria critérios, sensibiliza alguns comportamentos e abomina outros. Apesar do bolsonarismo estar mais associado à religiosidade, tanto os adeptos da direita, quanto os militantes da esquerda buscam incorporar a figura de Jesus Cristo em seus respectivos posicionamentos no espectro ideológico.

O filho da Palestina é a figura mais proeminente da corrente religiosa com o maior número de fiéis no Brasil e devemos tratar com naturalidade o desejo de grande parte da população em se reconhecer nele, pois buscamos estar mais próximos daquilo que admiramos ou fomos ensinados a admirar.

Entretanto, devemos questionar as verdadeiras intenções desse debate, já que estar ideologicamente em consonância com Jesus representa estar mais próximo do que é certo e justo. Essa discussão se tornou um delírio narcisista em que se disputa qual tipo de espírito é mais santo, incorporando pureza ao argumento, ao mesmo tempo em que descredibiliza o outro e tudo que ele acredita ser correto. É importante ressaltar que essa estratégia argumentativa não é privilégio de algum grupo político e, diferentemente das outras técnicas de comunicação, ela infla o mensageiro e não a mensagem.

Portanto, apesar das inúmeras propostas e juízos de valor a respeito da posição política de Jesus Cristo, é importante tratar a vida do messias como algo complexo demais para ser reduzido a uma ideologia, já que há relatos de que ele realizava seus discursos ao lado de grupos transgressores, muitos dos quais são menosprezados atualmente por aqueles que se dedicam a compartilhar a palavra do evangelho e, simultaneamente, foi vítima de um estado inchado, violento e com poderes ilimitados. Ele estimulava a bondade, a caridade e o amor ao próximo, inspirando inúmeros movimentos que trabalham ao redor do planeta para a redução da pobreza. Jesus Cristo foi político sendo apolítico.

Fontes:

https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2013/03/saiba-como-era-a-vida-no-tempo-de-jesus-4090974.html

https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2014/02/o-jesus-como-figura-humana-e-mais-acessivel-do-que-sua-versao-divina.html

https://www.ebiografia.com/jesus_cristo/

https://www.politize.com.br/o-que-e-polarizacao/