Manuela D’Ávila prefeita: um pesadelo real

November 27, 2020

Você pode estar preocupado com a possibilidade de São Paulo ter uma patrulha nos comércios da cidade por conta da ascensão de Russomano. Ou, talvez, com a provável eleição do multicondenado Eduardo Paes, que tem mais acusações do que o Vasco da Gama tem vice-campeonatos. 

Fato é: se tu fores porto-alegrense, como eu, tu vives o maior dos pesadelos dos últimos anos: ver Manuela D’Ávila prefeita da tua capital. 

Manuela dispensa apresentações. É um dos maiores fenômenos da política nacional desde o seu surgimento. Não é à toa que foi eleita a vereadora mais jovem da capital, aos 23 anos. Até hoje, é a política que chegou à Câmara dos Deputados com a maior votação da história do Rio Grande do Sul: 482.590 votos. Além disso, em 2018, desistiu da pré-candidatura à Presidência da República, após aceitar o convite para se tornar vice da chapa de Haddad. Ou de Lula. Ou do PT. Ou tanto faz. 

Desde a primeira pesquisa de intenção de votos à prefeitura de Porto Alegre, assumiu a liderança. Nunca mais saiu. 

Alguns especialistas, defensores da ideia da liberdade, buscam nos passar tranquilidade. Dizem que não é motivo para pânico, trazendo dois argumentos: a alta rejeição da candidata e a desidratação comum da esquerda – como foi o caso de Luciana Genro (PSOL) no pleito municipal de 2016, que na largada liderava as pesquisas, mas acabou a disputa amargando a quarta colocação. 

Não compartilho desse mesmo otimismo. Por três motivos: a conjuntura política, as alianças e os concorrentes. 

Porto Alegre é um berço de peculiaridade. Se você assiste filmes de terror e não conhece a nossa capital, muitas vezes nos comportamos como Harrisville, a cidade de invocação do mal. Diz-se que é a capital que mais representa o futuro da política. Foi no Sul do país que o PT recebeu o primeiro voto de confiança, no histórico gráfico das eleições presidenciais de 1994, em que o Rio Grande do Sul foi o único estado a escolher Lula, em vez de FHC. Assim como foi um dos primeiros a dar um sinal positivo para o avanço do Bolsonarismo, na época em que o então Deputado Federal gozava de um discurso neandertal e corporativista, reduzido a chavões discursivos e votos contraditórios e antiliberais.

Mapa de resultados da eleição presidencial no Brasil (1994).

Segundo a última pesquisa do Ibope sobre a aprovação do presidente, concluída em setembro desse ano, a rejeição ao atual governo em Porto Alegre é alarmante: 50% dos porto-alegrenses classificam a gestão como ruim ou péssima. A segunda capital do país que mais rejeita a administração atual. 

O provável reflexo disso é um giro de 180º nos rumos políticos da cidade. Onde lá, está à esquerda, aguardando para representar o descontentamento com a gestão bolsonarista. 

É claro. Falar de esquerda, sem falar no petismo, ainda é impossível. Por mais que as candidaturas do partido no estado estejam desabando nas últimas eleições, ficando de fora do segundo turno em 2016 em Porto Alegre, e em 2018, no estado, o PT esse ano cedeu: não será cabeça de chapa, para apoiar a candidata Manuela, que é do PC DO B (legenda que, na prática, funciona mais como uma ala interna do PT). 

Tal junção torna uma candidata popular com uma militância fiel e numerosa que torna a candidatura da esquerda a mais forte da última década na cidade.

Em destaque, os filiados da coligação Muda Porto Alegre (PT + PC do B).

Outro fator determinante para temermos uma possível vitória de uma, assumida, comunista nas eleições deste ano: os instrumentos financeiros possuídos pela candidata. O fundo eleitoral, mais conhecido como farra com o dinheiro público, consolida a candidatura de Manuela como extremamente combativa. Considerando os principais adversários, segundo as últimas pesquisas, o poder eleitoral de Manuela pode ser observado nos recursos financeiros dispostos pela candidata, um instrumento que pode ser decisivo numa campanha política. 

Escolha dos candidatos baseada pesquisa do Ibope – 05/10 (Manuela 24%, José Fortunati 14%, Sebastião Melo 11%, Nelson Marchezan 9%).

Os adversários de Manuela D’Ávila 

Além das vantagens já exploradas anteriormente, um grande trunfo da candidata são os adversários políticos. 

O atual prefeito, Nelson Marchezan, não parece ser uma ameaça. Por mais que Porto Alegre tenha conseguido um bom desempenho no combate à letalidade do Coronavírus, o prefeito se atrapalhou nos demais meses, o que aumentou a crise econômica e, principalmente, o desemprego provocado pela pandemia. Além disso, a intransigência e pavio curto de Marchezan são muito explorados pelos demais candidatos, além do processo de Impeachment que ameaçava tirar o prefeito da disputa, mas que há poucos dias foi arquivado pelo Ministério Público. 

Do outro lado, temos dois candidatos muito conhecidos dos porto-alegrenses: José Fortunati, ex-prefeito da capital; e Sebastião Melo, ex-vice-prefeito da própria gestão Fortunati. Melo, do MDB, encontra dificuldade em superar Fortunati (PTB), uma vez que se tornaria contraditório atacar o prefeito, por sua proximidade política e por ter pertencido à gestão dele. Ambos têm um eleitorado muito semelhante: o centro. Portanto,compartilham de forças e fraquezas que acabam se sobrepondo e, consequentemente, dividindo o eleitorado entre os dois candidatos, pela proximidade de agendas. 

Mas afinal, por que temer Manuela? 

Construir um socialismo à brasileira – esse é o principal objetivo da trajetória política de Manuela D’Ávila. E ela orgulha-se disso. 

Em um momento recente, Manuela resumiu a Revolução Russa como um momento “extraordinário”, classificando o terrorismo, mortes e assassinatos ocorridas durante o período como uma conjuntura mundial. O massacre, por vezes, não se dá por meio de serras-elétricas, mas sim por foices e martelos. 

A própria página oficial do partido de Manuela, PC do B, enaltece o Stalingrado, o classificando como um período heroico e triunfante das massas populares, sob o comando de Josef Stálin. Algo semelhante acontece quando se trata do maoísmo. 

As referências políticas da deputada já são reconhecidas. No mundo, essas ideias cerceiam as liberdades políticas individuais, por meio de expropriações, perseguições e assassinatos. Um legado de pobreza, fome e miséria. 

Mas vamos tentar ignorar as inspirações da candidata (tentar, pelo menos), debruçando-nos exclusivamente sobre o seu plano de governo e suas principais propostas.

O plano Manuela 

Manuela possui uma simpatia acima da média política. Isso é inegável. Porém, não se faz necessário um sexto sentido para termos dimensão dos problemas que podem ocorrer em nossa cidade caso ela seja eleita. 

O Estado como indutor da economia. Até aí não há contradição alguma, infelizmente. Não basta inúmeras análises empíricas que trazem a importância de um Estado enxuto para conseguir a sua eficiência, Manuela e Rosseto, seu candidato à vice, mantém a mesma fórmula atrasada de pensar a política, assim como os perigos de retrazer uma agenda que culminou num colapso na capacidade de investimento de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul durante as irresponsáveis gestões petistas que colocaram a cidade e o estado no vermelho, literalmente. 

Empresas com histórico recente de denúncias e condenações de corrupção também possuem destaque nos planos da candidata. A Procempa, companhia de processamento de dados, possuirá um papel central na inovação do município. O histórico da empresa? Dispensa ilegal, falsidade ideológica, improbidade administrativa e até (pasmem) uma máquina de contar dinheiro. 

No campo da mobilidade urbana, o plano de Manuela é a ampliação de investimentos públicos na Carris (empresa pública de transporte da cidade) e a criação de aplicativo de transporte individual, reforçando o ideário falido de que o Estado pode ser um gerador de riquezas, em vez do indivíduo. 

Em suma, um show de irresponsabilidade no trato das contas públicas, com propostas demagógicas e populistas que condenam a população mais pobre a algo que é muito recorrente nas práticas petistas: propostas vazias que oferecem soluções fáceis, sem apresentar o como fazer. Afinal, o que importa mesmo é ganhar a eleição. 

Manuela é um risco real pois é uma figura política solidamente construída, por ideias do passado que devastaram a sociedade nas mais variadas vertentes sociais, políticas e culturais. Assim como se coloca na campanha como representante de um projeto que atrasou o país na moralidade, rompeu com o compromisso democrático e flertou com ideias ditatoriais ao longo de todo o seu governo. 

Manuela pode ser a próxima ocupante do paço municipal em Porto Alegre. Cabe a nós, defensores da liberdade, o papel de impedir que o dia das bruxas acabe em novembro e não apenas em 2025. 

Enquanto vocês tem pesadelos com Freddy Krueger, o meu medo é acordar e ver Manuela prefeita. 

Caso isso se torne verdade, só posso lhe dar um único conselho: corra!