Elena Landau e Samuel Pessôa debatem em painel “Mais um ano perdido?”

June 6, 2018

Economia

Há pouco a fazer para salvar a economia brasileira em 2018, e o futuro depende muito das eleições presidenciais deste ano, disseram em debate na noite dessa quarta (5) a presidente do Conselho Acadêmico do Livres Elena Landau, o doutor em economia e membro do Conselho Acadêmico do Livres Samuel Pessôa, o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca e Mauro Benevides, um dos principais assessores do candidato a presidente Ciro Gomes.

Os quatro economistas participaram de encontro promovido pela Folha com o mote “Mais um ano perdido?”, sob mediação do jornalista Vinicius Torres Freire, colunista do jornal.

Os participantes apontaram o desequilíbrio nas contas públicas como um dos principais problemas atuais, divergiram em parte nas soluções para o rombo – que passam por elevar receitas e cortar custos – e defenderam a urgência de uma reforma na Previdência.

Também manifestaram preocupação com a possibilidade de um candidato extremista vencer a eleição para presidente.

“A saída populista recorre à inflação para mascarar o conflito pelos recursos do Tesouro, que é normal na sociedade e precisa ser mediado de forma clara pelo Congresso. O populista prefere evitar esse conflito distributivo, e a inflação, uma vez que atinge determinado patamar, se descontrola. O custo para baixar fica muito alto”, afirmou Samuel Pessôa.

Jair Bolsonaro (PSL) foi citado como extremista de direita pelos economistas.

“A perspectiva de a extrema-direita, de o Bolsonaro ganhar me tira o sono. Alguém que elogia um torturador, que diz que Fernando Henrique deveria ser fuzilado quando privatizou a Vale, está fora do campo democrático”, afirmou Giannetti.

À esquerda, Ciro Gomes (PDT) foi mencionado como extremista por Landau.

Pessôa disse que uma das poucas chances de 2018 não ser um ano perdido é que as eleições permitam um debate de alto nível sobre as medidas necessárias para o país.

“Se os candidatos propuserem projetos factíveis, ainda que enfatizem mais o corte de gastos ou mais o aumento de receitas, e os discutirem com a sociedade, talvez se possa arrumar a casa”, disse o economista.

Já Landau se mostrou cética sobre essa possibilidade. “Estou extremamente pessimista. Os candidatos não têm coragem de enfrentar os graves problemas do país, e vai ser inevitável o estelionato eleitoral se não falarem de reforma da Previdência, privatização, abertura comercial.”

Pessôa, Landau e Giannetti questionaram Benevides sobre declarações recentes de Ciro Gomes em relação aos juros.

“Falar em teto para gasto com juros me deixa extremamente preocupado. Isso é calote. Se fizer isso, o governo não terá como se financiar. Vai aumentar os juros e virá um colapso nas contas públicas”, afirmou Giannetti.

Benevides respondeu que não se cogita fixar um teto para os juros.

A abertura da economia seria, para Giannetti, uma das principais medidas para aumentar a produtividade do país, o que lhe permitiria escapar da “armadilha da renda média” e se desenvolver.

“Em 70 anos, só 12 países conseguiram ingressar no grupo dos desenvolvidos, e todos aumentaram sua participação no mercado internacional. O Brasil não vai escapar da armadilha se não aumentar sua exportabilidade, se não vender mais para o mundo e, em contrapartida, comprar do mundo aquilo de que precisamos.”

Segundo Landau, elevar a produtividade depende também de “refundar o Estado brasileiro”. “Não adianta só elevar receitas para fechar um buraco. Qual é o Estado que vamos oferecer? O Estado é ineficiente, não consegue competir de forma eficaz. É preciso menos Estado para elevar a produtividade.”

Texto adaptado de publicação original da Folha de S. Paulo.