“Economistas liberais nunca faltaram no Brasil”, avalia Persio Arida

July 7, 2020

O ministro Paulo Guedes aposta em uma narrativa de que o governo Bolsonaro representaria o primeiro sopro liberal na agenda econômica em toda a história democrática brasileira, após mais de 30 anos de social democracia.

Essa narrativa é falsa e atrapalha o trabalho dos liberais brasileiros. Liberais contribuiram decisivamente, às vezes com maior ou menor sucesso, em praticamente todos os governos eleitos após a redemocratização, inclusive nos períodos petistas.

“O governo Collor teve o Marcílio Marques Moreira. O presidente do Banco Central era o Ibrahim Eris. No governo Sarney, tinha lá o Maílson da Nóbrega. Alguém vai dizer que o Maílson da Nóbrega é de esquerda? Cruzado tinha o time todo. Durante o governo militar ainda, o presidente do Banco Central era o Pastori, que é completamente liberal. Até os governos do PT tiveram economistas liberais, como Marcos Lisboa e Joaquim Levy”, destaca Persio Arida, formulador do Plano Real e conselheiro acadêmico do Livres.

Compreender corretamente a história do liberalismo brasileiro e suas contribuições técncias aos diversos governos é fundamental porque o diagnóstico influencia a direção das ações estratégicas tomadas pelo movimento liberal. Apostar no erro gera esperanças vazias, frustração e, na prática, joga contra o avanço das ideias de liberdade. “Economistas liberais nunca faltaram nos governos. O problema sempre foi ou convencer o presidente de fazer reformas ou convencer o Congresso de fazer reformas”, sintetiza Persio.

Nesse sentido, as narrativas que falam em 30 anos ininterruptos de social democracia são um revisionismo histórico impreciso, que apaga as sutilezas necessárias para compreender como os liberais podem atuar no avanço de reformas concretas.

“O problema brasileiro, na verdade, não é da social democracia ou do governo militar. O negócio é o seguinte: políticos gostam de gastar. Ponto. Um político que quer legitimar um governo militar também gosta de gastar. Ponto. Então a tendência de crescimento de gastos existe sempre. Que economistas liberais queiram brecar gastos, sempre. A questão é a seguinte: como é que se elege um presidente da República que entenda a necessidade efetiva de controlar gastos e seja capaz de articular isso politicamente diante do Congresso?”, explica Persio.