O que está acontecendo com o Brasil?

March 31, 2018

Temos assistido a uma escalada dos casos de violência relacionados à política no Brasil. Um fenômeno que se fortalece desde a suja, corrupta e mentirosa campanha eleitoral vencida pelo PT em 2014 e que foi crescendo paulatinamente junto ao clima de polarização exacerbada que se seguiu.

As raízes da violência certamente são complexas. Não foram poucas as declarações irresponsáveis feitas por lideranças políticas de relevo: a exaltação de conhecido torturador, as promessas de sangue nas ruas, a convocação do “exército do Stédile”. Discursos que criam um clima de convocação à agressão e conclamam militantes a extrapolarem o debate do campo das ideias. O que de fato já tem ocorrido.

Corredores de universidade já viraram ringue pela incapacidade de conviver com a exibição de um filme. Ovos e até pedras já foram atirados em lideranças de diferentes campos políticos: ACM Neto, João Doria, Lula. Instalações da imprensa foram invadidas e depredadas por uma turba munida de facões e foices.

E então chegamos nos casos mais extremos. O ministro do STF Edson Fachin recebeu ameaças de morte. A caravana do ex-presidente Lula foi alvejada por tiros. Vereadores e suplentes de várias regiões do país foram assassinados em condições suspeitas.

Todos esses casos são absurdos, deploráveis e devem ser condenados por todos os democratas, não importam as discordâncias políticas existentes com cada um dos envolvidos.

Há elementos institucionais importantes que também não podem ser ignorados: a narrativa do golpe, fruto da incapacidade de aceitar a derrota dentro das regras do jogo; a vagarosidade da justiça em responder à altura os massivos escândalos de corrupção; a incapacidade de conter, processar e punir os responsáveis pelos mais de 60 mil homicídios por ano; a sensação de que o STF pode mudar sua jurisprudência para defender corruptos influentes.

Esses elementos criam uma sensação de impunidade aos poderosos e falta de garantias aos direitos individuais. Abala-se a fé nos mecanismos institucionais e, por consequência, a crença na democracia. Só que fora da democracia e das instituições não há civilização, mas barbárie.

Precisamos interromper esse ciclo de ódio e alterar o rumo do debate. Violência gera violência. Gentileza gera gentileza. E democracia gera democracia.

A tolerância, o respeito às divergências e o reconhecimento da legitimidade das visões alheias são molduras essenciais para a construção de um debate político saudável e virtuoso, com um clima de convivência democrática. Não podemos fortalecer nenhum projeto que se construa a margem desses princípios essenciais.

Essa é uma questão que precisa ser tratada com responsabilidade por todas as forças democráticas do país, independentemente das nossas divergências. A democracia é um pressuposto básico para o avanço do país em um rumo de civilização, prosperidade e respeito aos direitos individuais. Não podemos abrir mão dela.