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Mary Wollstonecraft: a pioneira do feminismo e defensora da liberdade feminina

Série Pequenos Guias Sobre Grandes Liberais

Quem foi Mary Wollstonecraft

Mary Wollstonecraft (1759 – 1797) foi uma filósofa, escritora e pensadora política inglesa que, apesar de uma vida curta e marcada por desafios, lançou as bases do feminismo moderno.

Nascida em Londres, em uma família inicialmente rica, Mary viveu a decadência financeira causada pelos gastos excessivos de seu pai, Edward John Wollstonecraft. Essa instabilidade econômica obrigou Mary a trabalhar desde cedo para sustentar a si mesma e a família, algo incomum para mulheres de sua classe social na época. Como mulher de uma família “respeitável”, as opções profissionais eram extremamente limitadas. Wollstonecraft exerceu os poucos papéis aceitos para mulheres: dama de companhia, governanta e professora.

Nenhum desses trabalhos, no entanto, lhe trouxe realização. Foi então que ela decidiu viver da escrita, um ato ousado para uma mulher do século XVIII. Autodidata, Mary aprendeu francês e alemão, tornando-se tradutora e escritora independente. Sua habilidade intelectual a destacou rapidamente no cenário literário e filosófico, algo raro para mulheres de sua época.

Envolvimento com a Revolução Francesa

Durante o período turbulento da Revolução Francesa, Mary Wollstonecraft participou ativamente do debate político. Em 1790, ela ganhou notoriedade ao criticar publicamente Edmund Burke, um influente político conservador britânico, em um ensaio em defesa da Revolução Francesa.

Esse episódio a projetou como figura central na imprensa liberal do período, já que desafiava não apenas ideias conservadoras, mas também o preconceito de gênero na esfera pública. Mary mudou-se para a França em 1792, onde testemunhou os eventos do Terror Jacobino, período marcado por violência política e perseguições.

Foi lá que escreveu uma de suas obras mais importantes, “Uma Visão Moral e Histórica da Revolução Francesa” (1794), oferecendo uma análise filosófica dos acontecimentos que mudaram a história da Europa. No entanto, com a ascensão dos radicais jacobinos, Mary viu-se obrigada a fugir. Perdeu amigos girondinos para a guilhotina e enfrentou graves dificuldades, especialmente como mãe solteira.

Ela criou sozinha sua primeira filha, Fanny, antes de retornar à Inglaterra.

Vida pessoal e legado familiar

A vida pessoal de Mary Wollstonecraft foi marcada por escolhas ousadas, que refletiam seus ideais de liberdade e autonomia. Ela viveu relacionamentos fora do padrão moral da época, sendo alvo de críticas severas, mas optou por viver conforme suas convicções, colocando em prática suas ideias sobre emancipação feminina.

Em 1797, Mary casou-se com o filósofo William Godwin, importante pensador anarquista. No mesmo ano, deu à luz sua segunda filha, Mary Shelley, que se tornaria a célebre autora do clássico Frankenstein.

Poucos dias após o parto, Mary Wollstonecraft faleceu em decorrência de uma infecção puerperal, aos 38 anos. Apesar da morte precoce, sua obra continuou a influenciar gerações, especialmente por meio do legado intelectual transmitido à sua filha e a outros pensadores liberais.

A Reivindicação dos Direitos das Mulheres: a obra fundadora do feminismo

Em 1792, Mary publicou sua obra mais famosa: “A Reivindicação dos Direitos das Mulheres” (A Vindication of the Rights of Woman).

O livro é considerado o primeiro tratado sistemático do feminismo moderno, no qual ela defende que as mulheres devem ser tratadas como seres racionais, com direito à educação, à propriedade e à autonomia política.

“A demanda por educação tem por objetivo exclusivo permitir o livre desenvolvimento da mulher como ser racional, fortalecendo a virtude por meio do exercício da razão e tornando-a plenamente independente.”

— Mary Wollstonecraft, A Reivindicação dos Direitos das Mulheres

Na época, a maioria dos pensadores liberais — inclusive aliados como John Stuart Mill — via a educação feminina apenas como um meio de formar melhores esposas e companheiras para os homens.

Mary rompeu com essa visão limitada, defendendo que a educação deveria ser instrumento de emancipação pessoal, permitindo que as mulheres alcançassem liberdade e igualdade.

Essa obra revolucionária estabeleceu os pilares da primeira onda do feminismo, que focava principalmente em:

  • Direito à educação.
  • Direito à propriedade.
  • Direito ao voto e à participação política.

Mary Wollstonecraft e o liberalismo

Mary Wollstonecraft não apenas inaugurou o feminismo, mas também integrou a luta feminina aos princípios liberais.

Para ela, a liberdade individual só poderia ser plena se fosse universal, alcançando homens e mulheres igualmente.

Sua crítica à infantilização e à irracionalização da mulher permanece atual, denunciando como a sociedade perpetua papéis que limitam o desenvolvimento feminino.

Décadas após sua morte, suas ideias influenciaram movimentos feministas ao redor do mundo, incluindo no Brasil.

As sociedades de senhoras abolicionistas brasileiras, compostas por mulheres brancas, negras, ricas e pobres, dialogaram diretamente com os postulados de Mary, agregando-os à luta pela abolição da escravidão e pela cidadania plena.

Impacto e legado contemporâneo

Muitos dos direitos defendidos por Mary Wollstonecraft foram conquistados legalmente no Ocidente, como o direito ao voto e à educação feminina.

No entanto, suas reflexões continuam atuais, pois a igualdade de gênero ainda enfrenta desafios:

  • Persistência da violência contra a mulher.
  • Desigualdades salariais e de representação política.
  • Preconceitos que limitam a liberdade feminina na vida pública e privada.

Mary Wollstonecraft permanece como símbolo de resistência e inspiração, lembrando que a luta por liberdade e igualdade deve ser constante e coletiva.

Leituras recomendadas sobre Mary Wollstonecraft

  • 📘 A Reivindicação dos Direitos das Mulheres – editora Boitempo (2015).
    Tradução moderna do clássico que deu início ao feminismo moderno.
  • 📖 Vindication: A Life of Mary Wollstonecraft, de Lyndall Gordon – biografia detalhada que analisa a vida e obra da filósofa.
    Disponível na Amazon.
  • 🌐 Domínio Público – versão em inglês do texto original disponível gratuitamente no Project Gutenberg.

Frases marcantes de Mary Wollstonecraft

  • “Não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens, mas sobre si mesmas.”
  • “É tempo de efetuar uma revolução nos costumes femininos – tempo de restaurar sua dignidade e fazê-las, como parte da espécie humana, trabalharem por si mesmas.”
  • “A mente se fortalece com o exercício da liberdade.”

Série Pequenos Guias Sobre Grandes Liberais

Este conteúdo faz parte da série Pequenos Guias Sobre Grandes Liberais, produzida pelo Livres.

Nosso objetivo é apresentar, em textos curtos e acessíveis, a vida, as ideias e a relevância de grandes pensadores liberais, conectando suas ideias aos desafios atuais.

Mary Wollstonecraft representa o elo entre feminismo e liberalismo, mostrando que a defesa da liberdade individual é inseparável da luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres.

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