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Carl Menger: o fundador da Escola Austríaca e a revolução do valor subjetivo

Série Pequenos Guias Sobre Grandes Liberais

Quem foi Carl Menger

Carl Menger nasceu em Galícia, região que na época fazia parte do Império Austro-Húngaro (atual sul da Polônia), em 28 de fevereiro de 1840, em uma família próspera e intelectualizada.

Ele tinha dois irmãos igualmente talentosos:

  • Anton Menger, filósofo e historiador jurídico com ideias socialistas.
  • Karl Menger, renomado matemático.

Desde cedo, Carl demonstrou interesse por questões sociais e econômicas. Em 1867, concluiu seu doutorado em Direito na Universidade de Cracóvia, o que lhe deu uma sólida base teórica para compreender as interações humanas e os mecanismos econômicos.

Sua carreira acadêmica avançou rapidamente. Em 1871, com a publicação de seu livro Princípios de Economia, Menger conquistou reconhecimento e recebeu uma posição como professor na Universidade de Viena, onde mais tarde assumiria uma cátedra que ocupou até 1903.

Além de sua carreira universitária, em 1876, foi nomeado tutor do príncipe herdeiro Rodolfo da Áustria, função que lhe permitiu ter influência direta sobre membros da família imperial.

Carl Menger e a fundação da Escola Austríaca de Economia

Carl Menger é considerado o fundador da Escola Austríaca de Economia, uma das correntes mais importantes do pensamento econômico liberal.

A Escola Austríaca é conhecida por defender princípios como:

  • A importância do indivíduo como agente central da análise econômica.
  • O papel das escolhas subjetivas na determinação do valor.
  • Defesa do livre mercado e da descentralização do conhecimento econômico.
  • Crítica ao intervencionismo estatal, argumentando que ele distorce os sinais do mercado.

Mais tarde, economistas como Ludwig von Mises e Friedrich Hayek expandiriam as ideias de Menger, transformando a Escola Austríaca em um pilar do pensamento econômico liberal moderno.

A teoria do valor subjetivo de Carl Menger

A maior contribuição de Carl Menger para a economia foi a teoria subjetiva do valor, que revolucionou a forma como os economistas entendem o funcionamento dos mercados.

Antes de Menger, predominava a teoria do valor-trabalho, defendida por economistas clássicos como Adam Smith, David Ricardo e, mais tarde, Karl Marx, segundo a qual o valor de um bem dependia da quantidade de trabalho necessário para produzi-lo.

Menger desafiou essa visão ao afirmar que:

O valor de um bem não vem do trabalho empregado, mas sim de sua capacidade de satisfazer necessidades humanas.

Isso significa que o valor é subjetivo: ele depende da importância que cada indivíduo atribui a determinado bem ou serviço.

Esse insight resolveu o famoso "paradoxo da água e do diamante" de Adam Smith: embora a água seja essencial para a vida, ela tem preço mais baixo do que um diamante.

Para Menger, isso ocorre porque o valor depende da escassez relativa e da utilidade marginal — ou seja, do quanto a unidade adicional de um bem atende a uma necessidade específica.

A revolução marginalista e a utilidade marginal

Carl Menger foi um dos líderes da chamada Revolução Marginalista, ao lado de William Stanley Jevons e Léon Walras.

Embora trabalhassem de forma independente, os três chegaram a conclusões semelhantes sobre a utilidade marginal, conceito central na economia moderna.

Exemplo prático: imagine que você tem vários baldes de água.

  • O primeiro balde será usado para beber, pois a sede é a necessidade mais urgente.
  • O segundo balde pode ser usado para cozinhar.
  • O terceiro balde, para lavar roupas.
  • E assim por diante, com usos cada vez menos importantes.

O valor do bem é determinado pela utilidade do último uso, chamado de utilidade marginal.

Essa teoria explica por que bens aparentemente menos essenciais, como diamantes, podem ter preços mais altos do que itens indispensáveis, como água: tudo depende do contexto e da escassez.

A teoria das trocas voluntárias

Com base em sua teoria subjetiva do valor, Carl Menger demonstrou que todas as trocas voluntárias beneficiam ambas as partes envolvidas.

Quando duas pessoas trocam, cada uma está entregando algo que valoriza menos em troca de algo que valoriza mais. Esse processo gera ganhos mútuos, aumentando a prosperidade geral. Menger também destacou a importância dos intermediários, como comerciantes e empreendedores.

Embora muitas vezes criticados, eles facilitam trocas que, sem sua intervenção, não aconteceriam, reduzindo custos e aumentando a eficiência dos mercados. Essa análise reforça a visão liberal de que o mercado, quando livre, cria redes complexas de cooperação espontânea, beneficiando toda a sociedade.

A origem do dinheiro segundo Carl Menger

Um dos insights mais duradouros de Carl Menger foi sua explicação sobre como o dinheiro surgiu espontaneamente, sem necessidade de intervenção governamental.

Antes de existirem moedas, as pessoas dependiam do escambo, que exigia uma “dupla coincidência de desejos”:

  • Alguém com lâmpadas que quisesse cadeiras precisava encontrar alguém com cadeiras que quisesse lâmpadas.
  • Essa limitação tornava as trocas difíceis e demoradas.

Com o tempo, indivíduos começaram a aceitar certos bens amplamente desejados, como sal, peles, gado ou metais preciosos, mesmo que não os quisessem diretamente, apenas para usá-los em futuras trocas.

Esse bem mais aceito gradualmente se tornou o dinheiro, facilitando transações e permitindo o desenvolvimento de economias mais complexas. Menger mostrou que o dinheiro não foi criado por decreto estatal, mas sim como resultado natural das interações humanas — um exemplo do que ele chamou de instituições orgânicas, assim como a linguagem.

Impacto na Escola Austríaca e pensadores posteriores

Após Menger, seus alunos e seguidores expandiram suas ideias, consolidando a Escola Austríaca de Economia como uma das correntes mais influentes do liberalismo econômico.

Entre os principais nomes estão:

  • Eugen von Böhm-Bawerk, que desenvolveu teorias sobre capital e juros.
  • Friedrich von Wieser, que aprofundou os conceitos de valor e utilidade.
  • Ludwig von Mises, autor de Ação Humana e grande defensor do livre mercado.
  • Friedrich Hayek, que introduziu a ideia de ordem espontânea e ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1974.

As ideias de Menger continuam centrais em debates sobre mercados livres, moeda, empreendedorismo e inovação.

Onde ler Carl Menger gratuitamente

As obras de Carl Menger estão em domínio público e podem ser acessadas online. Algumas sugestões:

Legado de Carl Menger

O legado de Carl Menger vai muito além da teoria econômica.

Sua visão sobre como instituições fundamentais — como o dinheiro, a linguagem e os mercados — surgem de forma espontânea e descentralizada é aplicável a diversas áreas, incluindo política, cultura e tecnologia.

Ele mostrou que a ordem social não precisa ser imposta de cima para baixo, mas pode emergir naturalmente das interações humanas quando indivíduos têm liberdade para agir.

Essa perspectiva fortalece a defesa do livre mercado, da descentralização do poder e da inovação constante.

Série Pequenos Guias Sobre Grandes Liberais

Este conteúdo faz parte da série Pequenos Guias Sobre Grandes Liberais, produzida pelo Livres.

Nosso objetivo é apresentar, em poucos minutos de leitura, a trajetória, as ideias e o impacto de grandes pensadores liberais, com dicas de livros e materiais complementares para quem deseja se aprofundar.

Com linguagem acessível e informações históricas, a série busca inspirar novas gerações a compreender como o liberalismo pode ajudar a construir uma sociedade mais justa, livre e próspera.

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