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Nísia Floresta: pioneira do feminismo e do pensamento liberal no Brasil

Série Pequenos Guias Sobre Grandes Liberais

Quem foi Nísia Floresta

Nísia Floresta, nascida Dionísia Gonçalves Pinto em 1810, no Rio Grande do Norte, foi uma educadora, escritora, abolicionista e defensora da igualdade de gênero, considerada a primeira feminista da América Latina.

Seu pseudônimo completo, Nísia Floresta Brasileira Augusta, carrega significados profundos: “Nísia” é a forma reduzida de Dionísia, “Floresta” vem do sítio onde nasceu, “Brasileira” expressa seu amor pelo país e “Augusta” foi uma homenagem ao seu único filho.

Desde jovem, Nísia rompeu barreiras impostas às mulheres da época, que eram educadas apenas para o ambiente doméstico. Sua maior bandeira sempre foi uma educação igualitária para meninos e meninas, defendendo que o acesso ao conhecimento era a chave para a emancipação feminina.

Essa visão foi fortemente influenciada pela filósofa inglesa Mary Wollstonecraft, autora de A Reivindicação dos Direitos da Mulher, um marco do feminismo moderno.

Com coragem, Nísia publicou artigos abolicionistas e feministas, denunciando o tratamento desumano dado à população negra escravizada e a discriminação contra mulheres. Ela se tornou uma voz influente em um Brasil ainda marcado pela escravidão, pelo patriarcado e por uma sociedade profundamente desigual.

Nísia Floresta e sua luta pela educação e igualdade

No século XIX, poucas mulheres tinham acesso à educação formal. Nísia acreditava que a exclusão feminina do estudo era a raiz da desigualdade. Para ela, meninas e mulheres não eram naturalmente inferiores aos homens; apenas eram educadas de forma desigual desde a infância, o que limitava suas escolhas e oportunidades na vida adulta.

Esse pensamento, na época revolucionário, ecoa até hoje. Estudos modernos em pedagogia confirmam que até brinquedos e atividades segregadas por gênero influenciam nas preferências e trajetórias futuras das crianças — uma percepção que Nísia já intuía em seus escritos.

Como educadora, fundou e dirigiu escolas em várias partes do Brasil, sendo as mais notáveis o Colégio Brasil e o Colégio Augusto, ambos no Rio de Janeiro. Nessas instituições, implementou métodos de ensino inovadores, defendendo que mulheres deveriam receber uma educação humanista e completa, igual à oferecida aos homens.

Nísia Floresta e o feminismo no Brasil

O marco mais importante da trajetória de Nísia Floresta foi a publicação do livro Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832), considerado o primeiro livro feminista da América Latina.

A obra é uma tradução livre e adaptada do clássico de Mary Wollstonecraft, na qual Nísia não apenas traduziu conceitos, mas também acrescentou suas próprias reflexões, adaptando-os à realidade brasileira do período.

Assim como Mary Wollstonecraft, Nísia era uma individualista convicta, defendendo que mulheres deveriam ser donas do próprio destino e de suas finanças, sem depender de maridos ou tutores. Essa perspectiva fazia parte de uma visão liberal que conectava a liberdade feminina à liberdade de toda a sociedade.

Além do feminismo, Nísia também atuou na causa abolicionista, entendendo que a luta pela emancipação das mulheres estava profundamente ligada à libertação de todos os grupos marginalizados, incluindo negros escravizados e, em um olhar visionário, grupos que hoje compõem a comunidade LGBTQIA+.

Seu pensamento defendia que não existe sociedade livre enquanto houver exclusão e discriminação.

Obras de Nísia Floresta

Embora Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens seja sua obra mais conhecida, Nísia Floresta escreveu diversos tratados abordando educação, igualdade e liberdade. Entre eles:

  • Conselhos à Minha Filha (1842) – reflexões sobre educação e moralidade, dedicadas à formação feminina.
  • Opúsculo Humanitário (1853) – disponível para compra online, aborda questões sociais e educacionais com forte crítica à escravidão e ao preconceito.
  • A Mulher (1859) – estudo sobre o papel da mulher na sociedade e a necessidade de emancipação feminina.

Além disso, ela publicou ensaios em jornais e revistas da época, muitos dos quais são estudados hoje como documentos fundamentais para o feminismo e o pensamento liberal no Brasil.

Morte e legado de Nísia Floresta

Nos últimos anos de sua vida, Nísia viveu na França, onde teve contato com intelectuais europeus e seguiu escrevendo e defendendo suas ideias. Faleceu em 1885, deixando uma vasta obra que continua a inspirar educadores, feministas e defensores da liberdade.

O legado de Nísia Floresta vai além de sua produção literária. Ela foi responsável por introduzir o feminismo no Brasil, conectando a luta por igualdade de gênero aos princípios liberais de liberdade individual e direitos humanos universais.

Sua trajetória mostra que a educação é o principal instrumento de transformação social, e que a emancipação feminina é fundamental para o avanço de toda a sociedade.

Saiba mais sobre Nísia Floresta

Quer conhecer mais sobre a vida e obra de Nísia Floresta? Aqui estão algumas sugestões:

  • O PDF gratuito Nísia Floresta, de Constância Lima Duarte, traz ensaios biográficos e trechos das obras mais importantes da autora.
  • Obras digitalizadas em domínio público podem ser encontradas em acervos online, permitindo um mergulho direto nos textos originais de Nísia.
  • Pesquisadoras como Constância Lima Duarte e Mary del Priore têm livros e artigos que analisam o impacto histórico e cultural de Nísia no feminismo e na educação brasileira.

Série Pequenos Guias Sobre Grandes Liberais

Este texto faz parte da série Pequenos Guias Sobre Grandes Liberais, criada pelo Livres.

Nosso objetivo é apresentar, em poucos minutos de leitura, a trajetória, as ideias e o impacto de figuras que moldaram o pensamento liberal, oferecendo dicas de livros e materiais complementares para quem deseja se aprofundar no tema.

Com narrativas acessíveis, buscamos inspirar novas gerações a entender como os princípios liberais — como liberdade individual, igualdade de direitos e educação para todos — continuam essenciais para construir uma sociedade mais justa e livre.

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