O preço amargo da má política

September 29, 2023

Artigo publicado originalmente no Blog do Jamildo

Por Karla Falcão e Gustavo Watts

Justo no ano que antecede as eleições, o prefeito João Campos tomou uma decisão que tem gerado indignação entre os cidadãos do Recife. A criação de 518 cargos terceirizados, com um custo de R$ 28 milhões para os cofres públicos, é uma ação que levanta sérias questões sobre as prioridades da administração municipal e o verdadeiro compromisso com a cidade e seus habitantes.

O que poderia ser feito com esse dinheiro? Vamos aos números!

Para começar, esse montante representa 67% dos gastos executados pela Prefeitura em obras nas áreas de risco da cidade em 2021. Esse é um dado alarmante, especialmente quando lembramos que ocorreu no ano que antecedeu uma das maiores tragédias da história do Recife, com 50 mortos e centenas de desabrigados devido às fortes chuvas e deslizamentos de terra.

Mas as preocupações não param por aí. Os R$ 28 milhões gastos com esses cargos terceirizados são quase equivalentes ao valor total do orçamento previsto para o Fundo Municipal de Saneamento em 2023. É importante ressaltar que, de acordo com o Trata Brasil, mais da metade dos recifenses (56%) ainda não têm acesso ao esgoto tratado na cidade. Esse dinheiro poderia ter sido direcionado para melhorias urgentes no saneamento básico, beneficiando diretamente a qualidade de vida dos cidadãos.

Além disso, também levando em consideração a previsão orçamentária para este ano, o referido valor é 215 vezes o montante reservado para o Fundo para Revitalização do Recife Antigo e quatro vezes o orçamento reservado para o Fundo de Empreendedorismo da cidade. Enquanto o centro do Recife permanece em estado de abandono e a população enfrenta dificuldades na busca por empregos, é difícil compreender por que os recursos não foram direcionados para iniciativas que realmente promoveriam o desenvolvimento econômico e a melhoria da infraestrutura da cidade.

É crucial questionar as motivações por trás dessa decisão. Qual é a verdadeira prioridade do prefeito João Campos? Por que a pasta destinada à articulação política da Prefeitura precisou ser ampliada com cargos exatamente um ano antes das eleições? Essas são perguntas que merecem respostas, pois estão diretamente ligadas à responsabilidade e à prestação de contas para com os cidadãos do Recife.

Ao optar por gastar uma quantia significativa dos recursos públicos em cargos terceirizados, o prefeito parece estar mais preocupado em manter-se no poder do que em atender às necessidades reais da cidade. Pintar uma fachada positiva nas redes sociais não pode substituir ações concretas que melhorem a vida dos recifenses.

Neste momento crítico, é fundamental que a sociedade exija transparência, responsabilidade e um compromisso genuíno com o bem-estar da cidade. O Recife merece uma liderança que coloque os interesses da população em primeiro lugar, acima de qualquer interesse pessoal ou político. Afinal, o futuro da cidade não pode ser comprometido em nome de ambições individuais.

Karla Falcão é mestra em direção de projetos pela Universidade de Valladolid, na Espanha, e ativista política em defesa da transparência, responsabilidade fiscal, liberdade e direitos humanos. É co-fundadora do Livres e nas últimas eleições municipais conquistou 4.780 votos para vereadora do Recife pelo Cidadania.

Gustavo Watts é internacionalista formado pela Faculdade Damas. Atua no mercado de importações e é co-fundador do Livres.