Da transformação de uma cidade, a transformação de uma sociedade

August 23, 2022

Cidades

Recentemente em uma conversa com Jorge Melguizo — ex-secretário Municipal de Cultura Cidadã de Medellín, na Colômbia — fui tomado por diversas reflexões. Na ocasião, Melguizo palestrou sobre como a união de vontades, parcerias público-privadas e políticas públicas de
qualidade ajudaram a transformar a segunda maior cidade da Colômbia, e a mais violenta, na região mais inovadora e estruturada da América Latina.

Os números eram assustadores. Por 20 anos a cidade mantinha o título de 389 mortos a cada 100 mil habitantes, com violência e desigualdade atingindo níveis altíssimos, citava o ex- secretário. Mas qual seria a solução e o caminho para, em tão pouco tempo, a cidade se
transformar nesse berço de inovação e qualidade de vida?

Uma transformação que começa com alianças. Parcerias com o setor público, privado e das comunidades. Aliás, talvez essa seja a maior inovação de Medellín: saber que cuidar do bem público é um desafio coletivo e um símbolo de dignidade e cidadania.

Levar junto à população a ideia de que, muito mais do que apenas o bem estrutural, é preciso preservá-lo e lutar para que novos investimentos e sistemas sejam implementados. Não existe gestão pública ou setor privado, ou mesmo condomínios residenciais de sucesso, em uma sociedade que perde suas crianças e jovens para o crime.

A noção de que o governo desempenha um papel crucial — trabalhando em colaboração a um investimento privado e a sociedade — é tão antiga quanto a república e inerente ao padrão de construção de uma cidade mais justa e acessível. É preciso, porém, colocá-la em prática.

Não há melhor investimento do que proporcionar à população oportunidades de qualidade no esporte, educação e lazer. É preciso investir na capacitação das pessoas — com olhar especial para a juventude — respeitando e incluindo todas as diferenças e fortalecendo e
impulsionando os coletivos culturais.

A ideia de uma parceria público-privada e da participação ativa da sociedade civil trabalhando junto ao governo para traçar os passos de uma transformação é o que tem sido feito desde o início em grandes cidades e o que traça os caminhos que devem ser tomados também aqui no Estado.

Projetos urbanos integrados e espaços públicos de excelência trazem qualidade de vida para seus moradores e atraem turistas da mesma forma, unindo as pessoas através das divisões sociais, econômicas e raciais. Da mesma forma, moradia, recreação e educação integral devem
ser priorizados nos locais mais vulneráveis e as regiões mais carentes e “violentadas” são as que mais devem receber estes investimentos.

É preciso deixar de fazer políticas públicas baseadas em estruturas setoriais, utilizando indicadores e comitês setoriais. Precisamos trabalhar com estruturas e indicadores populacionais e territoriais. Projetos integrados para atender demandas e gerar oportunidades, dignidade e mais qualidade de vida para as pessoas.

É fazer da cultura e educação o motor de desenvolvimento dos bairros com maiores índices de pobreza e violência. Comunicação pública como estratégia pedagógica para ajudar a entender e a construir um sentido coletivo. Transparência na maneira de fazer as coisas para construir uma verdadeira relação de confiança na área pública.

Volto aqui para o exemplo de Medellín apresentado no começo do texto. Uma cidade que através da união de vontades resolveu suas brechas sociais e conectou os locais de trabalho e moradia com locais de recreação para seus cidadãos.

A transformação de Medellín não é somente estética. É uma transformação estrutural, socialmente falando. Uma transformação ética e um bom exemplo de esperança. Um norte para que os modelos de reestruturação da cidade sejam usados também em outras regiões. Com boa política e união é possível abrir caminho e vislumbrar o desenvolvimento que todos buscam e esperam para uma sociedade mais justa, segura e inovadora.